17 de setembro de 2008

A Palavra de Jesus

Logo na segunda semana em que estivémos no mercado conhecemos um personagem que tinha tanto de enigmático quanto de fantástico.

Ali a 10 metros da nossa banca, um indivíduo claramente nómada neste mundo, tirou da sua viola e começou a tocar alguns dos êxitos dos 70's que tão bem soam em formato acústico, Pink Floyd à cabeça...

Por respeito, desliguei o nosso stereo, para que a sua música pudesse ser mais facilmente audível. Passada meia-hora o novo vizinho fez uma pausa na sua actuação. Aproveitámos a deixa e a Patricia foi desejar-lhe as boas vindas e oferecer-lhe o que dispunhamos em ambundância: bananas.

À distância, observei uma curiosa dança de expressões de bizarria de nosso vizinho quando a Patricia se abeirou dele. Como a comunicação parecia não estar a funcionar e a Patricia me lançou aquele olhar típico de "Help.... ele não me está a entender", abeirei-me também.

Ao ver-me chegar o nosso novo vizinho lançou uma frase que para sempre recordarei...
Vizinho: "Are you bringing me the word of Jesus?"
De forma tão simples quanto sincera, rispostei...
Rui: "No, we're bringing you Bananas!"

Foi o início de uma interessante conversa de 2 horas com este vizinho. Lá nos explicou que em Portugal, sempre que alguém foi simpático com ele, quis em troca e de forma paternalista falar-lhe sobre a palavra de Jesus... O nosso vizinho já conhecia Jesus e tem outros interesses nesta vida.

De origem escandinava este cidadão do mundo havia percorrido vários continentes. Da Ásia à Oceânia, das Américas à Europa... Tudo isto a pé e à boleia!

A sua última travessia havia-o conduzido do Cabo da Boa Esperança ao Norte de África passando por locais como Angola, Guiné, Deserto do Mali, Atlas, etc... Foram 2 horas de troca de impressões sobre a natureza humana, sobre modos de vida, sobre o homem e a natureza...

Eu e a Patrícia aprendemos muito com este nosso vizinho... No final perguntei se lhe podia tirar uma foto, mas ele disse que ia tomar um banho (ali mesmo na ria) e depois logo se via... Percebi tudo... Nem sequer lhe perguntei o nome. Isso não era relevante.

O importante era como estávamos a viver aquele momento, tentando ser felizes e retirando o melhor possível de nós mesmos e dos outros. O seu nome, o meu nome.... era irrelevante. Somos todos iguais... Somos todos o mesmo...

Ele não queria ouvir a palavra de Jesus, mas não será este conceito muito próximo da mais genuína das ideias do novo testamento?

Este episódio aconteceu-nos já há 3 semanas, mas só agora o amadureci suficientemente para o descrever.

Um bem haja para o nosso vizinho nómada, onde quer que ele esteja.

PS: Ele levou as bananas.

Sem comentários: